O solstício de verão, os casamentos e os dias mais longos.

O povo da Espanha não se casa. Bom, pelo menos essa geração de agora, Laerte, casado com Carmen, que tem mais um casal de amigos casados (aqui na Espanha), algo aconteceu desde a geração dos avós destes que aqui estão, que tinham muitos filhos, como no Brasil, os pais, que tiveram bem menos filhos, mas ainda mantinham a tradição de família, com pelo menos um ou dois filhos, como talvez seja no Brasil hoje (dados para classes sociais mais abastadas)… Porém, esses dois filhos, não se casaram, e, ao que parece, tambem não pretendem fazê-lo. Mesmo em unidades familiares anteriores, que seriam os pais esta geração, há episódios de casais sem filhos.

Lógico que, apesar disso, desde que cheguei aqui em Salamanca, com suas igrejas enormes e igrejas dentro de igrejas, esperava ver algumas festas de boda (como eles chamam a festa de casamento), estranhamente vi poucas, na verdade apenas uma, em todo tempo que estive aqui, a vi quando saia da biblioteca municipal (Casa das Conchas), na bela igreja que há na frente.

Estranhamente,  por esses dias, chegando o verão daqui e suas temperaturas de 40º, e com a proximidade do solstício de verão e seus dias estranhamente mais largos, com  anoitecer as dez ou mais da noite, vejo bodas quase todos os dias, nos mais variados locais da cidade, e por curiosidade acabei descobrindo que por tradições celtas, e/ou de quaisquer outros povos que por aqui estiveram, as bodas continuam acontecendo nas mesmas ocasiões que há tempos atrás.

O solstício de verão, marca por aqui o começo do verão, e que por mais que se fale, não se consegue passar a verdadeira dimensão da coisa, pra nós que estamos acostumados ao anoitecer de seis da tarde e ao amanhecer ás seis da manhã, é muito difícil falar sobre o anoitecer de dez ou onze horas da noite. E o começo do verão trazia a festa do calor celta, festa onde se acendiam fogueiras em pontos centrais ou importantes do vilarejo, ou da festividade, para proteger os cultivos que então cresciam. Entoando canções rituais, cheias de alegria, e dançando ao redor da fogueira. Uma festa eminentemente pagã, o nome da festa? Festa de Litha, Alba Heruim, ou como a igreja católica decidiu nomear, noite de São João, nem as datas se deram ao trabalho de mudar, são as mesmas aqui e ai, apesar do nosso verão ser em janeiro, e comemoramos a festa do verão, no INVERNO, hehehehehehe!!!!! Quando li, sabia que conhecia essas paradas de dançar em volta de fogueira cantando músicas de algum lugar… Comemoramos uma festa celta!!! hehehehehe

Os casamentos supersticiosos acontecem nessa data porque o casamento nos dias do sol, há de trazer saúde, alegria e abundância para os conjuges. Domingo, como dia do sol oficial, tambem está na lista, assim como a segunda (Lunes, dia da lua, pois quem se casa no dia da lua tem fertilidade e abundância tambem) e sexta (Viernes, dia de Venus, deusa da beleza e do amor, que trará carinho ao matrimônio). Pra ver que superstições há em todo canto, as daqui não são melhores, nem piores, são apenas diferentes. A piada mesmo, fica por conta de nós festejarmos uma festa celta na data errada e ainda chamarmos de “nossa” tradição e cultura… Tradicional a nossa festa se tornou, cultural, já não se pode discorrer muito sobre… Enfim, de nossa, não tem muita coisa.

De qualquer forma, viva o solstício de verão, e feliz São João pra todo mundo! =)

2 Comments

  1. andrei barros correia

    Caro Severiano,

    Belíssimo post este. Assunto bom, texto bom.

    É curioso como ficaram reminiscências pagãs por baixo de várias camadas de tinta dos diversos preconceitos e mitos religiosos que se puseram por cima.

    No solstício de verão o são João e no solstício de inverno a natalidade do Galileu. Foi muito melhor usar uma data festiva já existente que tentar criar outra.

  2. Thiago Loureiro

    Legal a tese levantada pelo amigo, e como disse Andrei, bom texto…
    Mas o que não é nada bom é esse calor, coisa de louco, Putz!!!
    😀

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